Eu e o Típolli, a gente teve um encontro excepcional. Eu já
tinha visto as fotos dele antes. Lembro que eu estava dançando na boite
Hippopotamus e tinha um sujeito me olhando havia muito tempo. O Daniel (Más)
veio falar comigo que queria me apresentar uma pessoa que queria me fotografar.
Era o Tripolli. Ele já estava me fotografando, vendo o que ia acontecer. A
partir dali fizemos um trabalho que culminaria no ensaio em preto e branco, de
1984.
Quando a Playnoy me convidou, eu disse: “Ih, Luiz, eu acho
que já passou da época, não dá mais”. Mas tinha o Mário de Andrade (ex Diretor
de Redação da Playboy na épica), que era bárbaro. Isso faz a diferença! As
pessoas certas, no lugar certo, na hora certa. Se você olhar, naquele tempo,
aí, sim, estamos saindo da ditadura, começando um processo de abertura...
Quando eu fotografei a primeira vez, na Status, eu tinha 22 anos, depois fui me vendo cada vez mais nessa
sensação de abertura política que você está falando, e isso não era, de maneira
nenhuma, contraditório com o meu caminho, com a minha pesquisa, de saber o que
fazer com o meu corpo. O Luiz pra mim, é um grande artista. Esse encontro está
dentro de uma estrutura muito interessante para o Brasil. E o Mário está ali, o
Mário comprava umas ideias inacreditáveis.
Era um ensaio nu em um formato bem diferente, era preto e
branco e vinha com um livro muito bonito. Eu só fiz o livro porque Mário falou assim: “Eu sei que você vai nos
pedir uma coisa que é para não fazer” Eu disse: “Vou, um ensaio todo em preto e
branco”. Aí a gente arrebentou, pois foi a última vez que eu posei. É uma idade
de ouro (27 anos), um corpo de ouro, sabe? Era tudo tão perfeito que a gente
fotografou em preto e branco e acabou. O Tripolli era um parceiro, pegava os
negativos, uma tesoura e me chamava. Zuuuft!, sobrava apenas um, ninguém via o
resto.
Esse ensaio é ousado até para os padrões atuais da revista.
Foi feito para arrebentar mesmo.
As fotos são como pinturas. Tem uma das fotos que eu estou
com um cigarro, se você olhar, a cinza está perfeita. Eu fiquei parada naquela
posição o tempo de carburar o cigarro inteiro! Quanto tempo demora um cigarro?
Fazer um trabalho desse é de enorme responsabilidade. Eu acho todos bonitos,
mas esse trabalho é indiscutível.
É a época de Blade Runner. O tema estava no ar. O ensaio é
muito teatral, tem uma violência naquela estética, uma agressividade. O Luiz
tem uma coisa engraçada que é assim: você ficava três horas se arrumando. Aí
ele ia lá para ver e dizia: “Pode lavar a cara, o cabelo e vamos começar tudo
de novo”. Tinha uma coisa de “vai ser desse jeito”. Você sabia que estava
entrando em uma aventura de 12 horas de trabalho e que ia sair uma coisa única.
Isso tem a ver com o teatro. Posso entrar tranquilamente pela noite, um bom
vinho, uma boa mesa, uma boa música, e a coisa vai andando. Mas com muito
controle e consciência.
Esse ensaio é difícil para quem vê. Não acho que seja um
ensaio que o cara tem um drive sexual imediato. Não tem! A proposta alí não era
essa. Você fica meio assim quando vê, entendeu? E acho que nem todo mundo que
viu, gostou. Agora, chulo ele não era. A minha trajetória com o Luiz tem a ver
com o perigo. A coisa artisticamente perigosa, ela muda você. Muda seu olhar. A
ideia era essa.
Christiane Torloni
Conheci o Luiz Tripolli no Hippopotamus, um clube maravilhoso
dos anos 1980. Ele foto-grafou meus dois ensaios. O primeiro [março de 1983]
foi numa casa dos Matarazzo. Mi-nhas fotos favoritas são a da navalha no
chu-veiro e a com as carpas na banheira. Imagina nadar com carpas? Foi
maravilhoso. Só esta-va frio. São Paulo, um banheiro gelado, e não podíamos
usar aquecedor por causa das carpas. Mas o ensaio de que mais gosto é o em
preto e branco [1984]. É chiquérrimo, com a estética fantástica do Blade Runner.
Lembro que vi o Luiz cortando os negativos de várias sequências de fotos com
uma te-soura. "Não vai sobrar nenhuma!", gritei. E ele: "Esta é
a melhor". Ele não queria nada mais ou menos. Tinha que ser a foto
perfeita.
Christiane Torloni, revista Playboy abril 2016
Christiane Torloni e eu fizemos dois ensaios para a PLAYBOV —
um colorido, em 1983, e outro em preto e branco, em 84, Naquele período, e
maioria das atrizes tinham restrições em relação à maneira carro iria tirar a
roupa. Mas a Christiane nunca leve medo de nada. O que facilitou muito foi o
fato de ela ir pra frente da câmera despojada de qualquer tipo de preconceito.
Em virtude da segurança que ela tinha em se mostrar, tínhamos a proposta de
fazer um segando trabalho com algo a mais. No ensaio de 1984. varamos a
madrugada no estúdio. Tomando um belo Chianti. Foi um ensaio grande, que saiu
numa edição com capa dura. Isso teve uma repercussão muito legal. A ideia era
provocar a leitor. Foi fantástico. Também teve as tais fotos nos quais aparece
o ânus dela. E todo mundo só falava disso. Parceria que não conseguiam enxergar
outra coisa. Mas, sinceramente, não foi nada previamente pensado por nós. Eu
nem estava enxergando isso àquela hora. Ela estava linda, fotografei, ampliamos
e só depois a gente foi observar que aparecia, mas de uma forma fantástica.
Está lindo, ela nunca criou nenhum problema com isso. ara hoje todo mundo se
lembra dessas imagens. são fotos que foram feitas no começo dos anos 1980, mas
que são modernas até hoje
Luiz Tripolli
Sorte a nossa que em 1984 a Ditadura Militar no Brasil já
estava em declínio, pois assim pudemos ver o ensaio com uma das fotos mais
ousadas da história da Playboy Brasileira.
Thiago Casagrande
O que me chama a atenção nesse ensaio que ele é em preto e
branco e suas fotos remetem às revistas erótica antigas. Ele é tão cheio de
elementos que valem muito a posição.
Thiago Macari
As fotos em preto & branco, a sensualidade e beleza
artística da composição deixaram a Torloni mais icônica e majestosa. Sem dúvidas,
um dos ensaios mais elegantes da história da Playboy Brasil.
Juliano Vilaça
Seja na telinha, na edição especial, ou em suas duas
marcantes edições mensais, La Torloni vibra e transmite arte. Para 1984, tudo o
que vemos é hipnotizante, teatral, é revelador. Nas mãos do genial Tripoli,
cada close, o mínimo flash são representações da mais pura sensualidade
brasileira, de fazer inveja até em Botticelli. Temos polêmica? Claro, ela é um
Mito Estrelar. Pena que a foto que mais amamos não nos é permitido publicação
Bebê...
Marcus Rodrigues
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